terça-feira, 3 de junho de 2008

O MUSEU DO HOMEM E O MURO DAS LAMENTAÇÕES




A Prefeitura de Manaus estará entregando à população o Museu do Homem, maior e mais moderno que o antigo, com 4 mil peças no acervo, mostrando o homem da região sem focar excessivamente no índio ou no caboclo. No novo Museu do Homem o visitante poderá ter uma visão integral do amazônida, de como ele vive, se alimenta, se locomove, que tipos de produtos extrai da floresta, sua relação com os rios e a natureza e participação no mundo moderno. Uma casa de farinha em tamanho real e um tapiri, de defumação de borracha, que é uma pequena cabana coberta de palha, como as antigas casinhas de taipa, muito comuns no nordeste, onde as pessoas podem interagir, são algumas das atrações. Trata-se de um novo modelo de Museu projetado para estimular o visitante a se interessar pela história do povo do lugar. A Fundação Joaquim Nabuco, foi quem cedeu todo o material para a Prefeitura, por meio de um contrato de comodato. O novo Museu do Homem conta ainda com uma belíssima biblioteca totalmente informatizada e uma loja de souvenirs (lembrancinhas) onde serão vendidos artesanatos, livros e CDS de autores regionais. Muito bem! Apesar de tanta modernidade, tantos cuidados, os administradores continuam errando por um motivo apenas, o fato de serem apenas administradores. Nestes equipamentos estratégicos de cultura é preciso que se tenham agentes culturais, que pensem e usem a arte e a cultura como instrumento de transformação e no mínimo, de reflexão social. No mundo moderno até os cemitérios mudaram suas fachadas - Manaus foi pioneira nisso -, ficaram menos ‘carregadas’, pesadas, estão dotados de lanchonetes e até pequenos auditórios para 20 e até 60 pessoas, isto ameniza o sofrimento daqueles que velam seus mortos porque o espaço tem um objetivo comum; Aproximar as pessoas com as mesmas necessidades. A história de um povo não deve ser contada somente para estrangeiros mas para o próprio povo e deve ser repetida muitas vezes, assim o povo percebe sua identidade e suas referencias. Para mim, todo museu deveria ter um aspecto mínimo de uma Casa Popular de Cultura, com todos seus ingredientes básicos e não apenas ser o museu, aquela coisa silenciosa. O novo Museu do Homem vai ficar uma beleza! Não tenho dúvidas disso mas, para atrair o visitante do estado ele terá que falar, vai precisar propor para poder incluir e nesse processo é necessário o conteúdo além da bela fachada. Como eu disse os secretários de cultura são quase sempre secretários, muitas vezes cercados por conselhos de cultura fajutos, sem representação das diversas áreas do setor artístico e cultural. Tais conselhos não fomentam a descentralização, o empreendedorismo, o escoamento da produção, a crítica especializada, etc, etc, ficam apenas nas conversas fiadas repetindo os mesmos erros e emperrando tudo, abrindo espaços para organizações picaretas que se estabelecem no vácuo da desorganização do setor que não propõe nada, pela ausência também de grupos de resistência como os da guerrilha cultural. Chegam com seus cabides de empregos tirando do pouco que a burocracia oficial destina para viabilização de alguns projetos culturais de artistas locais, muitas vezes grandes artistas anônimos. As secretarias de cultura deste Brasilzão precisam pensar e discutir cultura de modo geral e não somente a arquitetura. Uma grande ação cultural pode perpetuar o nome de um secretário (quase todos querem ficar para a história) e nem sempre um grande prédio consegue fazer. Parabéns à cidade de Manaus pelo seu novo Museu, mas é pouco, muito pouco diante da dimensão geográfica e da importância histórica deste povo e dos seus artistas que ainda não perceberam que a Cultura é responsável pela movimentação de bilhões de dólares em todo o mundo. E viva a Ópera Baré.




Nilson Sótero - Agente Cultural de João Pessoa(nilsonsotero2@hotmail.com)

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