sábado, 26 de julho de 2008

CENA URBANA



Por Sandro Abecassis



Flagrei um caminhão de mudança bem tradicional, com os estrados de cama, guarda-roupa, colchões, geladeira, o povo todo em cima e o mais engraçado o cachorro da família no meio de todo esse furdunço. Parecia um Leão da montanha, potente, latindo para os carros que passavam e os donos comendo bananas em cima de caixas e mais caixas de tudo que é treco.Os tempos modernos vez ou outra se confundem na periferia, e na própria mágica dos centros urbanos, os carros luxuosos que só faltam andar sozinhos e ao lado um velho caminhão de mudança transportando pessoas e sonhos pra outro lugar. Quem são essas pessoas? O que fazem? Pra onde vão? De onde vem? Será que alguém se pergunta também? Bom, não sei, mas são pessoas como qualquer outra, só muda a embalagem, o caminhão, o cachorro, o colchão, as bananas que talvez não sejam bananas e os sonhos que às vezes vão além da realidade


Sandro Abecassis - Publicitário e Músico

visite: sandromarceloabecassis.blogspot.com


quarta-feira, 23 de julho de 2008

VIAGEM INSÓLITA DE UM CABOCLO



Por Sky Rodrigues



O cd "Divina Comédia Cabocla" com composições de Nícolas Jr. e Aldísio Filgueiras e ainda Joaquim Marinho narrando alguns "causos" é simplesmente um sarro!
O bom humor nas letras, a participação da platéia e a interpretação de Nícolas são impagáveis.
Separei a letra de uma das faixas mais tocadas no programa Mesa de Bar da Amazonas Fm.


Viagem insólita de um caboclo
Nícolas Jr. ( do cd Divina Comédia Cabocla - ao vivo)

Um certo dia fui fazer uma viagem
Lá pras bandas do sudeste
Conhecer nova paisagem
Pedi dormida na casa dum primo meu

Que eu não via há muito tempo
E ele então me acolheu
Já foi dizendo corte logo esse cabelo
Que tu veio lá do mato
Deve ter malária ou dengue Escondida aí nesse pelo
Ou então uma sucuri Enrolada aí pelo meio
Aqui tem carro e metrô pra todo lado
Por isso não vá pra rua

Pra não ser atropelado

Me apresentou uma mulher meio fechada

Disse que era sua esposa e de família abastada
Já foi falando a casa tem oito quartos
Duas salas de estar
E um tal de home teatro

Essa cozinha é bem maior que o seu barraco
E isso aqui é uma geladeira, um produto muito caro

E pegou a perguntar
Como estavam os canibais

Se ainda tinha muita onça andando pela cidade

Perguntou se eu tinha vindo de canoa ou de cipó

Se eu trazia alguma flecha pra mostrar pra sociedade
Chamou e disse
:
Essa aqui é minha piscina
Tem 40 de largura por 70 de lonjura

É a maior da redondeza
Tem mais 8 de fundura

Ela é grande ou não é?

Olhe meu primo
Realmente ela é pequena
A piscina lá de casa
É que é demais já muito grande
Fica até dificultoso pros menino tuma banho
A bicha mede 3 km de largura
Ela nasce no Peru e vai bater no Oceano
Mas veja primo o progresso aqui é grande

A ciência é avançada coisa de 1º mundo
Um dia desses comecei a passar mal
Fui bater no hospital com a morte já no prumo
Eles tiraram meu coração cansado
Colocaram um de plástico, fiquei mais fortificado

Depois pegaram o coração defeituoso
Trocaram umas veias velhas, hoje bate noutro moço
Olhe meu primo isso num me causa espanto

Eu tava ralando mandioca cê sabe
Um trabalho e tanto E o meu dedo entrou no triturador
O bicho esfarelou e misturou-se com a massa
E o doutor então pegou aquela massa
Moldou o dedo de novo
Olhe só como ficou
Mas essa terra é o centro do Brasil

Coisas que tu nunca viu E nunca verá por lá
E desafio qualquer um a perguntar
Se não tiver por aqui

Não tem em nenhum lugar
Na sua terra tem pupunha ?
- Não senhor.
Tem umas tapioquinha com uns bejuzinho do lado?

Umas mandioquinha cuzida,com manteiga derretida
Um tambaquizão assado com limão e um pirãozinho tem? -Não senhor
Umas morena bem corada
Da cara arredondada

Uns muntueiro de perna
E a bundona arrebitada tem? -Não senhor
Tem Pereira, tem Cileno Torrinho, Chico da Silva
Tem semáforo no shoppinhg

O pedestre anda nas ruas

Os busão bem geladinhos tem?
Tem um certo Amazonino que governa há vinte anos

E vai governar mais trinta se bobearem pro mano,tem? -Não senhor
Por aqui tem boi bumbá
Umas canoas atravessando

Paga pra estacionar
Ultrapassa pela direita Mesmo com os guarda olhando tem? -Não senhor
Eu quero ir pra lá

Então meu primo

Venda toda essa tranqueira
Aproveite e dê de brinde
Sua mulher e a geladeira
Pois lá num tem serventia
Tudo é feito na hora
Não se guarda pra outro dia
E a comida é de primeira
Já as mulheres tem um sabor diferente

Tomam sol todos os dias
São coradas que nem jambo

São belas por natureza

E fervem mais que café quente
E vou dizer mais uma coisa

Isso muito me convém
Eu não troco essa Amazônia

Por sudeste de ninguém

domingo, 20 de julho de 2008

NO MUNDO DA TERCEIRIZAÇÃO



Por Sky Rodrigues

Quando iniciei a carreira de radialista, bem no início dos anos 90, o rádio tinha uma certa magia que me cativou instantaneamente. Não eram só os “vozeirões” dos locutores que me deixavam curiosa e com muita vontade de entrar naquele “mundo mágico”, mas o todo, músicas, vinhetas, as festas, tudinho!

Mesmo possuindo uma certa experiência na música como cantora, minha relação com o rádio ainda traria muitas surpresas.

Foi tudo muito rápido. De repente eu estava ali na recepção aguardando a hora de entrar na sala do coordenador da emissora. De tanto que insisti ele não teve como evitar o encontro, mas foi direto ao assunto:

___ “Olha querida, aqui não trabalhamos com estagiários. Nosso quadro de locutores está completo. Aliás, temos os melhores do mercado...”

Era verdade. Ou quase que totalmente verdade. Acho que a sorte aliada à minha total incapacidade de aceitar não como resposta foi o que fez com que 2 meses depois eu estivesse operando com toda “segurança” e empolgação de uma estagiária. Mas eu apenas operava, não falava absolutamente nada... nem a hora.

Em uma dessas tardes rotineiras lá estava eu “operando” quando o coordenador saiu com essa:

___ “Sky, amanhã você começa no ar.”

Dá pra imaginar a minha cara de susto?

Naquela época, as emissoras normalmente trabalhavam com uma só locutora e os demais eram os queridinhos da mulherada.

Era tudo muito redondinho. Programação 24 horas, segmentada, éramos treinados pra falar na introdução das músicas e ninguém entrava no “game” sem o tal DRT. Eu acabei me acostumando com esse modelo e talvez por isso, não compreenda facilmente como hoje em dia basta comprar um espaço na rádio e pronto, o cara entra no ar, fala o que quer, do jeito que quer e vira locutor da noite pro dia.

Nem estou colocando a questão acadêmica, pois sei perfeitamente que talento não se aprende em sala de aula, mas existem algumas técnicas que são necessárias para um bom desempenho na locução e isso só a experiência e a busca pelo aperfeiçoamento conseguem trazer.

Tudo bem, a terceirização parece mesmo ser o modelo mais interessante comercialmente falando e as rádios não vivem só de métrica, mas o negócio está ficando bagunçado demais! Cada emissora monta sua estratégia de programação de acordo com interesses, que em alguns casos, vão muito além do simples: INFORMAR, ENTRETER E EDUCAR.

Acredito em um rádio mais interativo com a internet e outras ferramentas, buscando aproximar-se ao máximo dos interesses do ouvinte. A linguagem mudou e a pessoa do outro lado quer ter a sensação de exclusividade.

Por isso precisamos de gente preparada, para atuar na profissão. Somos formadores de opinião, portanto, temos enorme responsabilidade com o que dizemos e de como agimos.

Usemos o veículo de maneira mais digna.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

JOÃO GILBERTO CONTINUA O MAIS VALORIZADO DO BRASIL


Por Nilson Sótero
Agente Cultural em João Pessoa

Um dos principais nomes da bossa nova (ao lado de Tom Jobim e Vinícius de Moraes), João Gilberto, volta a tocar no Brasil nas comemorações pelos 50 anos do gênero que revolucionou a história da música brasileira. O papa da Bossa Nova fará quatro shows, dois em São Paulo, um no rio de Janeiro e um em Salvador. Os fãs da bossa e de João Gilberto terão que pagar até R$ 2.100 para ver o mito de perto. Os ingressos para os shows em São Paulo serão colocados à venda a partir de 5 de agosto. Os bilhetes para a apresentação no Rio de Janeiro poderão se comprados do dia 14 de agosto em diante. Em Salvador, as vendas começam dia 26 de agosto. João Gilberto do Prado Pereira de Oliveira, baiano de Juazeiro, nascido aos 10 de junho de 1931, é considerado o criador do ritmo bossa nova. João Gilberto ainda é o maior ganhador brasileiro de Grammy, o Oscar da música, sendo que nunca foi receber “unzinho” sequer, talvez por sua excentricidade, perfeccionismo ou por sua vida reclusa. Histórias curiosas cercam o ídolo, com a famosa “Lenda da Elba Baralho”, contam que numa certa madrugada Elba Ramalho recebeu um telefonema de João, que a convidou para jogar baralho, Elba, pra não perder a grande oportunidade de estar ao lado de João Gilberto atendeu imediatamente, parou em uma banca de revistas e comprou um baralho, chegou ao flat onde mora João, bateu à porta e o mito perguntou quem era, Elba então respondeu com sua voz estridente, como se fosse um fantasma de criança com frio: Sou eu, João, e trouxe o baralho. Ok, respondeu o papa, então vamos começar o jogo! Vamos João mas, eu estou do lado de fora. Ah, passe as cartas por debaixo da porta! E assim jogaram até amanhecer o dia. Eu gosto muito do João Gilberto, leio muito sobre o cantor pois sua trajetória me fascina e espero que as bandas de plástico não ousem jamais, tocar em um só acorde deste que é o único cantor vivo, com uma música ha mais de 40 anos como a segunda mais executada no mundo. Parabéns a Bossa Nova e Viva João Gilberto. Alguns dos mais importantes trabalhos de João Gilberto: Chega de Saudade (1959), Getz/Gilberto (1964), Getz/Gilberto (1965), João Gilberto en México (1970), The Best of Two Worlds (1976), Live at the 19th Montreux Jazz Festival - ao vivo (1986), Live at Umbria Jazz (1996), In Tokyo - ao vivo (2004).

quinta-feira, 10 de julho de 2008

UM SARAU NA FLORESTA



Por Sérgio Luiz Gadini
Jornalista, professor/doutor na Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde atua no curso de jornalismo e no programa de Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas.


Reunir sons naturais, textos poéticos e acordes musicais com ritmos que ressoam em nossos beiradões, no desejo de registrar os sonhos e o jeito simples de ser das pessoas que habitam as margens esquecidas dos rios da Amazônia. Este é a proposta do CD Sarau na Floresta, do músico, poeta e compositor amazonense Celdo Braga.
Na primeira faixa, a introdução deixa bem claro o objetivo do álbum. Daí em diante, sons da mata se misturam com declamações poéticas – da própria autoria de Braga – e sons instrumentais, que simulam cantos de pássaros, a descrição de experiências da Grande Amazônia, além de homenagens e lembranças da vida humana na Região.
E o que mais se pode ouvir no Sarau da Floresta? Na segunda faixa, por exemplo, pode-se ouvir o som do vento... soprando, nas matas! Na sexta faixa, Braga apresenta o canto do Uru que, na sutil apresentação, se sobrepõe ao som dos instrumentos musicais. Na seqüência, o CD traz sons que simulam movimentos e a vida na mata, como na música “Curupira e o caçador”, onde os instrumentos produzem um “efeito de sapopema” e de uma caminhada na mata. Já na faixa 11, o som do “macaco Prego” reporta o pensamento do amante da música para o grito animal no interior da mata.
Várias faixas são compostas apenas de poesias, somente na voz do próprio autor e compositor, como a 4 (“Farinha”), 7 (“O caboclo e a canoa”), 8 (“Do fundo da cuia”), 9 (“Contexto de Pau”), 11 (“A planta sabe”) e a última (16), “Chico Mendes: silêncio em prece”. As poesias revelam um pouco da sensibilidade do poeta (que também é autor de vários livros, entre os quais “Água e farinha”, já em sua 3ª edição, publicado em 2001):

“São mãos calejadas, na lavra dos sonhos
Coivaras, brocados, em meio ao carvão.
No ventre da roça se assanha a maniva
Milagre da lenda na trama do chão”.

Entre poesias, ritmos instrumentais e músicas, Sarau na Floresta registra 43 minutos de gravação, que encantam pela sutileza, simplicidade e criatividade no modo de apresentar o que o CD indica como “modos de ser” dos moradores ribeirinhos da Amazônia.
O que chama a atenção em Sarau na Floresta é a variação de sons, resultado de combinações e experimentos que envolvem diversos instrumentos musicais, não tão habituais em grupos folclóricos, tais como o Cuatro Venezuelano, a Marimba (teclado), kalimba, xeque, djambê, escaleta, dentre outros. Isso, claro, sempre marcado pela presença de sons, efeitos, pios de pássaros e cantos de animais, que remetem a um mundo mágico da vida da mata nativa.

Mas quem é Celdo Braga?
Amazonense, natural de Benjamin Constant, é graduado em Letras (pela PUC-RS). Foi no Rio Grande do Sul que passou a mixar variações de diferentes gêneros musicais, como a nativista gaúcha, com algumas expressões da musicalidade própria do Amazonas. Braga também foi um dos fundadores do Grupo Raízes Caboclas que, em 2007, percorreu diversas cidades do Brasil, com apresentações artísticas pelo Projeto itinerante Sonora Brasil, promovido pelo Serviço Social do Comércio (SESC), que anualmente seleciona diferentes grupos musicais das mais diversas regiões do Brasil, para realizar uma turnê com apresentações em inúmeras cidades do País. Foi, diga-se de passagem, nesta passagem que o CD de Braga se tornou conhecido, durante um show de aproximadamente 60 minutos, realizado em na entrada da Primavera de 2007, nos Campos Gerais do Paraná (Ponta Grossa, 21/09/2007, numa noite de sexta-feira).
É claro que se algum desavisado espera encontrar agitação e som pesado em Sarau na Floresta escolheu o CD ‘errado’. Mas, certamente, para qualquer amante da música, que envolve experimentação instrumental, combinações ousadas e a tentativa de representar sons da mata nativa, vai encontrar no disco de Celdo Braga um produto cultural que encanta, do início ao fim, seja pela simplicidade, quanto pela leveza que os instrumentos musicais conseguem produzir. Celdo Braga retrata alguns dos encantos musicais das ‘margens esquecidas’ da Amazônia.
E o que mais chama atenção em Sarau na Floresta? A homenagem a um dos seringueiros mais conhecidos da Amazônia no mundo – Chico Mendes, assassinado em 1988, depois de travar muitas lutas em defesa dos direitos dos trabalhadores nos seringais – encerra o Sarau na Floresta:


“Luz de poronga se apaga
Silêncio no seringal
Coração – tambor do tempo
Cala o sonho e o ideal.
O sol mingua claridade
Toda a floresta escurece.
No céu da grande Amazônia
Chico Mendes se faz prece.
Prece para refletir
Prece pra gente rezar.
Semente de sonho e vida
E a vida vai germinar.
Viva a Amazônia e o povo
Que Chico quis libertar”

Enfim, trata-se de um produto musical, que vale conferir! Afinal, é um CD que retrata situações típicas, com sons próprios, da vida na mata, com todos os seus encantos e ideais... que, muitas vezes, na forma como estão apresentados, só a música consegue mostrar.
A expressão de traços culturais da Grande Amazônia chega vai, para além dos rios e matas da Região, através de um produto de mídia, na forma de um CD... possibilitando que outros amantes, estudiosos ou meros simpatizantes da cultura popular também possam usufruir de alguns encantos da natureza humana, reproduzida no bem cultural.

Informações:
www.celdobraga.com.br - celdobraga@kintaw.com.br



terça-feira, 1 de julho de 2008

VOTAR OU NÃO ? - DISCUSSÕES CIBERNÉTICAS...



Enquanto isso.... Ivaldo Gomes (pernambucano, professor e escritor em João Pessoa) manda um e-mail para um amigo em São Paulo.

“...Montada a farsa dos 'acordos políticos' e das eleições, candidatos a postos, decisões tomadas à portas fechadas e na ausência do interesse do povo e da maioria da população ; agora vamos atrás dos bestas dos eleitores e contribuintes para legitimar tudo que foi feito por trás das portas. Que interesses foram acertados? Ninguém sabe. Mas com certeza, lhe digo sem medo de errar, em TODOS os acordos, ficou acordado que o povo vai pagar a conta. Se der certo ou der errado.

É por isso que seu voto e seu imposto é importante para construir de verdade uma democracia. Exija que se rediscuta suas funções. Pois uma democracia não se constrói de verdade com politiqueiros fazendo acordos secretos para o povo cumprir - só suprir os fundos - com tantos impostos extorsivos. Existe política além do voto. E com certeza não é dessa política que estamos falando aqui. Pois o que se faz hoje em termos de política é politicalha. Que é uma coisa muito diferente do termo política (para todos).

Politicalha é a forma de fazer discursos e práticas em torno do que poderia ser a política, com interesses muito pessoais ou no máximo de grupos. O que torna o exercício da atividade um mero 'que fazer' de castas e grupos que assim que assumem o tal poder, começam a oprimir a maioria com seus privilégios e falcatruas.

Estamos também começando a nossa 'campanha eleitoral' nesse dia de hoje. Campanha de esclarecimento público, do que se passa verdadeiramente por aqui.
Chega de enganação...”


Pedro Osmar, artista multimídia paraibano que mora em São Paulo, responde:


Ivaldo, mais uma vez eu afirmo: SE O VOTO É UMA ARMA, ATIRE PARA MATAR!

"Antes arte do que tarde!".


A Democracia que eles criaram não é a democracia que nós sonhamos, agimos e elaboramos enquanto coletivo, enquanto povo!
Os interesses estarão sempre contraditórios, o povo indo para um lado (com ou sem armas na mão) e a elite indo cínicamente para outro. Esta é a sociedade que criaram pra gente viver. E esse modelo não vem de agora mas de muitos séculos atrás, quando a barbárie mandava e desmandava e foi preciso se criar uma "mordaça" institucional para conter os "abusos de poder" de uma população que reclamava e queria melhores condições de vida, se expressando em seus quebra-quebras .

No entanto, hoje só "eles" abusam! Só "eles" definem o que querem, como querem e quando querem! E a isso dão o nome de democracia burguesa!
Mas que democracia é essa? A democracia capitalista? E que democracia queremos implantar? A democracia socialista e comunista? Ou nenhuma democracia? talvez um outro tipo de procedimento político que venha resolver as graves questões sociais que nos abatem...e que as elites sequer imaginam como resolver...
Não sabemos, não é Ivaldo? Nos perdemos pelo meio do caminho da social-democracia como mais uma fórmula de fazer os contrários conviverem...devidamente domesticados e atraiçoados!

Se há alguma saída política (e não apenas pessoal, individualista e particular), esta saída pode estar...na educação, na formação de indivíduos conscientes de seu papel de agentes transformadores, dentro e fora das universidades, dentro e cada vez mais profundamente dentro dos bairros, e assim criar novos quadros politizados, num projeto/processo de vida adiante...com ou sem partidos...
Aliás, conhecemos essa história como a palma da mão, não é Ivaldo? Pois é, desde Paulo Freire que tem gente séria preocupada com as saídas políticas para a democracia! A partir da educação politizada, da arte comprometida com mudanças, com a minha e a tua vida (como diria o poeta amazonense Thiago de Melo), de uma cultura voltada para os grandes questionamentos sociais que vasculham o passado, o presente e o futuro em busca de soluções coletivizadas, descentralizadas, socializadas, popularizadas...e a isto chamando de CIDADANIA, que é a capacidade de nos moblizarmos para pensar e agir mudanças e transformações, algo que temos tentado exercer com as forças comunitárias que ainda nos restam, com algum sucesso (nem tudo está perdido!). Só que precisamos sair de nossos gabinetes! Ir pro bairro, ir pra rua! Mas numa atividade constante, permanente, diária, de educação popular nos bairros!

Mas eleição, Ivaldo, é outro papo! É quando a desigualdade social se mostra mais fraturada e doente, mais contraditória e atrasada, já que as forças que constroem esse espaço político estão minadas (nunca saberemos onde pisar...), e como é uma obrigatoriedade, temos que cumprir então essa parte que nos cabe dentro do latifúndio e, Votar!
E o voto sendo uma arma, atirando valores que possam extirpar, de alguma forma, a canalhice dos poderosos que fundamentam, enfim, a cara e o caráter desta sociedade burguesa que somos obrigados a apoiar para sobreviver. Não é sério, isso? esse formato...essa obrigatoriedade...e não há outra saída! Votar nulo não é a saída!
É preciso que tenhamos uma outra atitude diante do problema e discutir isso com a população em debates educativos permanentes.
Ou assumimos como nossa essa possibilidade de democracia "construída em bases populares", ou votar nulo será mera omissão de pessoas que não tem qualquer responsabilidade com os rumos de afirmação dos valores que nos levem a um futuro mais seguro. Somos nós e depende de nós a construção desse futuro mais democrático e popular, e infelizmente não temos tido preparo e tino para fazer diferente, de uma maneira tal que resulte nesses "novos rumos" e não apenas na repetição dos equívocos graves que temos presenciado nas esquerdas que participamos, esteja ela agindo e atuando concretamente nos bairros ou não, esteja ela com armas e lucidez na mão, ou não.

O que fazer, Ivaldo? Votar ou não votar?
Deixar isso pra lá e tirar férias como se não tivéssemos nada a ver com isso? É preciso ter cuidado, hoje eu compreendo. É preciso ter cuidado pois o futuro das novas gerações (nossos filhos, nossos netos) depende do que fizermos agora, com os pés no chão e a cabeça no lugar, pensando coisas novas e boas e produzindo novos conhecimentos para essa Universidade Popular que é a cidade, que são as cidades! Não adianta ficar com o papo furado de que "não tem mais jeito", "que ninguém vai consertar mais isso". Tudo depende da gente Ivaldo, da atitude que tomarmos agora, para dialogar com a realidade em pé de igualdade. E temos que partir mesmo é do bairro onde moramos! A mobilização começa em casa, com os filhos, com a esposa, com as famílias, com os vizinhos, com o pessoal da rua, dos quarteirões, e o ano todo! Com ou sem eleições! O tempo não pára, a vida não pára!

Fazer política é uma arte! Com ou sem armas na mão! Se as FARCS (exército popular) resistem até hoje, não é por mera brincadeira de desocupados. Hoje, mais do que nunca, devemos dar "vivas" ao Raul Reyes e ao Manuel Marulanda! pela experiência e tentativas de participar da democracia sem armas (via partidos políticos e presença no processo eleitoral e parlamento da Colômbia) e com armas, numa vigília constante nos acampamentos nas selvas colombianas.
O que dizer mais sobre democracia, se não que é a única saída de afirmação coletiva que temos? É assim que sempre vi e continuo vendo: a democracia popular dos bairros como resposta politizada para os impasses criados pelas "elites bandidas", elites facínoras, que buscam confundir o povo e as populações na hora que tem de decidir o futuro de suas cidades, o futuro político das novas gerações, pelo voto ou pelas armas (e isso nada tem a ver com os bandidos que estão nos morros traficando ). É outra atitude, severa, responsável e abrangente, dialogante com seu tempo!

Pois é, Ivaldo, vamos pensar melhor e nas próximas eleições em vez de estarmos fora do processo eleitoral, criticando o processo partidário, processo parlamentar, nos preparar para sermos candidatos e encarar de frente essa batalha de ocupar as cadeiras de um parlamento que deve ser trabalhado no sentido de ser cada vez mais popular e democrático, socialista. Afinal, nós vamos ficar reclamando pelas esquinas e barzinhos até quando? Nós temos que tomar uma atitude! Criar uma campanha de filiação de pessoas comprometidas com mudanças e com um passado de luta, e investir nelas para participar de um possível bloco popular dentro dos partidos ditos de esquerda! ou os partidos que historicamente vêm tentando elevar a sua voz e participação no meio popular. Enfim, esta é a questão que deve estar posta nas eleições 2008 visando as próximas eleições!

O resto é besteira!