terça-feira, 1 de julho de 2008

VOTAR OU NÃO ? - DISCUSSÕES CIBERNÉTICAS...



Enquanto isso.... Ivaldo Gomes (pernambucano, professor e escritor em João Pessoa) manda um e-mail para um amigo em São Paulo.

“...Montada a farsa dos 'acordos políticos' e das eleições, candidatos a postos, decisões tomadas à portas fechadas e na ausência do interesse do povo e da maioria da população ; agora vamos atrás dos bestas dos eleitores e contribuintes para legitimar tudo que foi feito por trás das portas. Que interesses foram acertados? Ninguém sabe. Mas com certeza, lhe digo sem medo de errar, em TODOS os acordos, ficou acordado que o povo vai pagar a conta. Se der certo ou der errado.

É por isso que seu voto e seu imposto é importante para construir de verdade uma democracia. Exija que se rediscuta suas funções. Pois uma democracia não se constrói de verdade com politiqueiros fazendo acordos secretos para o povo cumprir - só suprir os fundos - com tantos impostos extorsivos. Existe política além do voto. E com certeza não é dessa política que estamos falando aqui. Pois o que se faz hoje em termos de política é politicalha. Que é uma coisa muito diferente do termo política (para todos).

Politicalha é a forma de fazer discursos e práticas em torno do que poderia ser a política, com interesses muito pessoais ou no máximo de grupos. O que torna o exercício da atividade um mero 'que fazer' de castas e grupos que assim que assumem o tal poder, começam a oprimir a maioria com seus privilégios e falcatruas.

Estamos também começando a nossa 'campanha eleitoral' nesse dia de hoje. Campanha de esclarecimento público, do que se passa verdadeiramente por aqui.
Chega de enganação...”


Pedro Osmar, artista multimídia paraibano que mora em São Paulo, responde:


Ivaldo, mais uma vez eu afirmo: SE O VOTO É UMA ARMA, ATIRE PARA MATAR!

"Antes arte do que tarde!".


A Democracia que eles criaram não é a democracia que nós sonhamos, agimos e elaboramos enquanto coletivo, enquanto povo!
Os interesses estarão sempre contraditórios, o povo indo para um lado (com ou sem armas na mão) e a elite indo cínicamente para outro. Esta é a sociedade que criaram pra gente viver. E esse modelo não vem de agora mas de muitos séculos atrás, quando a barbárie mandava e desmandava e foi preciso se criar uma "mordaça" institucional para conter os "abusos de poder" de uma população que reclamava e queria melhores condições de vida, se expressando em seus quebra-quebras .

No entanto, hoje só "eles" abusam! Só "eles" definem o que querem, como querem e quando querem! E a isso dão o nome de democracia burguesa!
Mas que democracia é essa? A democracia capitalista? E que democracia queremos implantar? A democracia socialista e comunista? Ou nenhuma democracia? talvez um outro tipo de procedimento político que venha resolver as graves questões sociais que nos abatem...e que as elites sequer imaginam como resolver...
Não sabemos, não é Ivaldo? Nos perdemos pelo meio do caminho da social-democracia como mais uma fórmula de fazer os contrários conviverem...devidamente domesticados e atraiçoados!

Se há alguma saída política (e não apenas pessoal, individualista e particular), esta saída pode estar...na educação, na formação de indivíduos conscientes de seu papel de agentes transformadores, dentro e fora das universidades, dentro e cada vez mais profundamente dentro dos bairros, e assim criar novos quadros politizados, num projeto/processo de vida adiante...com ou sem partidos...
Aliás, conhecemos essa história como a palma da mão, não é Ivaldo? Pois é, desde Paulo Freire que tem gente séria preocupada com as saídas políticas para a democracia! A partir da educação politizada, da arte comprometida com mudanças, com a minha e a tua vida (como diria o poeta amazonense Thiago de Melo), de uma cultura voltada para os grandes questionamentos sociais que vasculham o passado, o presente e o futuro em busca de soluções coletivizadas, descentralizadas, socializadas, popularizadas...e a isto chamando de CIDADANIA, que é a capacidade de nos moblizarmos para pensar e agir mudanças e transformações, algo que temos tentado exercer com as forças comunitárias que ainda nos restam, com algum sucesso (nem tudo está perdido!). Só que precisamos sair de nossos gabinetes! Ir pro bairro, ir pra rua! Mas numa atividade constante, permanente, diária, de educação popular nos bairros!

Mas eleição, Ivaldo, é outro papo! É quando a desigualdade social se mostra mais fraturada e doente, mais contraditória e atrasada, já que as forças que constroem esse espaço político estão minadas (nunca saberemos onde pisar...), e como é uma obrigatoriedade, temos que cumprir então essa parte que nos cabe dentro do latifúndio e, Votar!
E o voto sendo uma arma, atirando valores que possam extirpar, de alguma forma, a canalhice dos poderosos que fundamentam, enfim, a cara e o caráter desta sociedade burguesa que somos obrigados a apoiar para sobreviver. Não é sério, isso? esse formato...essa obrigatoriedade...e não há outra saída! Votar nulo não é a saída!
É preciso que tenhamos uma outra atitude diante do problema e discutir isso com a população em debates educativos permanentes.
Ou assumimos como nossa essa possibilidade de democracia "construída em bases populares", ou votar nulo será mera omissão de pessoas que não tem qualquer responsabilidade com os rumos de afirmação dos valores que nos levem a um futuro mais seguro. Somos nós e depende de nós a construção desse futuro mais democrático e popular, e infelizmente não temos tido preparo e tino para fazer diferente, de uma maneira tal que resulte nesses "novos rumos" e não apenas na repetição dos equívocos graves que temos presenciado nas esquerdas que participamos, esteja ela agindo e atuando concretamente nos bairros ou não, esteja ela com armas e lucidez na mão, ou não.

O que fazer, Ivaldo? Votar ou não votar?
Deixar isso pra lá e tirar férias como se não tivéssemos nada a ver com isso? É preciso ter cuidado, hoje eu compreendo. É preciso ter cuidado pois o futuro das novas gerações (nossos filhos, nossos netos) depende do que fizermos agora, com os pés no chão e a cabeça no lugar, pensando coisas novas e boas e produzindo novos conhecimentos para essa Universidade Popular que é a cidade, que são as cidades! Não adianta ficar com o papo furado de que "não tem mais jeito", "que ninguém vai consertar mais isso". Tudo depende da gente Ivaldo, da atitude que tomarmos agora, para dialogar com a realidade em pé de igualdade. E temos que partir mesmo é do bairro onde moramos! A mobilização começa em casa, com os filhos, com a esposa, com as famílias, com os vizinhos, com o pessoal da rua, dos quarteirões, e o ano todo! Com ou sem eleições! O tempo não pára, a vida não pára!

Fazer política é uma arte! Com ou sem armas na mão! Se as FARCS (exército popular) resistem até hoje, não é por mera brincadeira de desocupados. Hoje, mais do que nunca, devemos dar "vivas" ao Raul Reyes e ao Manuel Marulanda! pela experiência e tentativas de participar da democracia sem armas (via partidos políticos e presença no processo eleitoral e parlamento da Colômbia) e com armas, numa vigília constante nos acampamentos nas selvas colombianas.
O que dizer mais sobre democracia, se não que é a única saída de afirmação coletiva que temos? É assim que sempre vi e continuo vendo: a democracia popular dos bairros como resposta politizada para os impasses criados pelas "elites bandidas", elites facínoras, que buscam confundir o povo e as populações na hora que tem de decidir o futuro de suas cidades, o futuro político das novas gerações, pelo voto ou pelas armas (e isso nada tem a ver com os bandidos que estão nos morros traficando ). É outra atitude, severa, responsável e abrangente, dialogante com seu tempo!

Pois é, Ivaldo, vamos pensar melhor e nas próximas eleições em vez de estarmos fora do processo eleitoral, criticando o processo partidário, processo parlamentar, nos preparar para sermos candidatos e encarar de frente essa batalha de ocupar as cadeiras de um parlamento que deve ser trabalhado no sentido de ser cada vez mais popular e democrático, socialista. Afinal, nós vamos ficar reclamando pelas esquinas e barzinhos até quando? Nós temos que tomar uma atitude! Criar uma campanha de filiação de pessoas comprometidas com mudanças e com um passado de luta, e investir nelas para participar de um possível bloco popular dentro dos partidos ditos de esquerda! ou os partidos que historicamente vêm tentando elevar a sua voz e participação no meio popular. Enfim, esta é a questão que deve estar posta nas eleições 2008 visando as próximas eleições!

O resto é besteira!



2 comentários:

Sandro Abecassis disse...

O voto neste País infelizmente sempre virou moeda de mercado, algo mudou é claro, um pouco mas mudou. Creio sim em mudanças, mas em longo prazo, porque existe a cultura de que é "legal" e ser "esperto" trocar voto por emprego, comida, madeira, casa e outras mais que a gente nem acredita.

CLUB DA CULTURA disse...

Meu caro Sandro, o Brasil é um país de muitas disparidades. Gente muito rica e gente muito pobre. Para essa nação empobrecida e faminta, um rancho e tantas outras coisas pode ser a salvação do dia... infelizmente.
A quem interessa que as pessoas tenham consciência de que usar voto como moeda de troca é a principal razão de sua pobreza?